segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O que é Diferença, afinal? Eliana Pougy mestranda na FE-USP

Colaboração dos profs supervisores André e Maria Lucia

Muitas vezes, ouvimos as pessoas utilizarem o termo Diferença como se ela fosse apenas respeito pelas opiniões contrárias ou pelas idéias contraditórias. O argumento que corrobora esse tipo de afirmação é o de que devemos ter “respeito pelas diferenças” ou de que devemos aceitar os “diferentes”, dar voz aos “excluídos”, dialogar “democraticamente”.
Mas, afinal, o que é a Diferença, mote e inspiração para o título dessa coluna?
Diferença é um modo de pensar, ou seja, é um exercício do pensamento que possui determinadas premissas ou um determinado modo de se entender o homem, a natureza, as coisas do mundo, as relações, a sociedade, a linguagem, os valores, a vida, enfim.
A filosofia da Diferença faz parte de uma linha de pensamento que “quebrou” as concepções filosóficas e científicas que eram tidas como verdadeiras. Essa quebra de paradigmas da ciência resultou em um novo modo de pensar que se caracteriza pela interdisciplinaridade e por novos modos de entender o que é sujeito e o que é objeto. Ou seja, ela entende que as ciências estão sempre se transformando e se relacionando, e que, por isso, tanto o sujeito quanto o objeto do conhecimento são construções, ou criações, do discurso cientifico de que fazem parte.
Dessa forma, a filosofia da Diferença enquadra-se no pensamento complexo. A teoria do pensamento complexo entende que pensamento (ou consciência), linguagem, verdade, razão, sujeito, objeto são inseparáveis, e não partes separadas que possuem uma existência em si. Elas são partes que se inter-relacionam e se confrontam, para poder existir. Dessa forma, a linguagem mistura-se com o pensamento e com o conceito de sujeito, e passa a ser encarada como uma rede de significações e atribuições, e não apenas uma representação do real. Ou seja: não existe mundo, ou seres, fora da linguagem.
Para o pensamento complexo, aquilo que entendemos como homem está em constante transformação, em constante organização paradigmática, constantemente se autoproduzindo. Nesse sentido, a significação das coisas do mundo não está presente apenas no signo, aquilo que precisa ser interpretado por alguém. Para o pensamento complexo, o signo é uma unidade que faz parte do processo contínuo e infinito de produção de sentido. Em outras palavras, a combinação de signos está presente na significação, mas a própria significação, entendida como criação de sentido, está sempre em suspenso, sempre imanente. Ou seja, vivemos mergulhados na imanência, na busca pelo sentido, e para isso, interpretamos signo s.
Os filósofos da Diferença, como Foucault, Deleuze, Guattari e Derrida, entre outros, fazem parte de uma linha filosófica que tem como expoentes Espinosa, Bergson e Nietzsche, uma filosofia que se interessa pela diversidade, pluralidade e singularidade, ao invés de uma filosofia baseada numa Idéia universal e numa totalidade que contém partes singulares. Ou seja, a filosofia da Diferença se interessa menos pelas semelhanças e identidades e muito mais pela singularidade e particularidade.
E o que é uma singularidade? De forma alguma, é algo único, original, uma Identidade imutável no sentido clássico do termo. Os filósofos da Diferença entendem como singularidade um conjunto de coisas-seres-signos-idéias. Ou seja, singularidade é sempre um bloco que depende da situação em que ela se dá. Por essa via, essa filosofia coloca em xeque a nossa capacidade de acreditar em fazer juntos, em partilhar. A filosofia da Diferença estimula uma individualidade sabedora de sua dependência com os outros e com o mundo.
Por isso, um dos principais objetivos dos filósofos da Diferença é desconstruir os mundos construídos pela linguagem, os chamados discursos, a fim de chegar ao grau zero, ao ponto inicial de determinada construção, ao pensamento sem imagem. Ao exercitar o pensamento dessa forma, podemos perceber até que ponto estamos todos mergulhados num mesmo discurso, até que ponto esse discurso se tornou algo natural, algo que faz parte do senso comum e daquilo que nos torna “iguais”, aquilo que nos identifica.
Deleuze, em seu livro Diferença e Repetição, fala sobre um tipo de pensamento que se opõe à imagem dogmática, aquilo que ele chama de pensamento sem imagem: um pensamento que começa sempre pela diferença, no meio de alguma coisa, num eterno retorno do diferente. A idéia de Eterno Retorno vem de Nietzsche, que afirma que pensar, mais do que reconhecer uma Idéia pré-concebida, é exercitar o pensamento transdisciplinar, transversal, que começa sempre pela diferença, no meio de alguma coisa, a partir de um acontecimento que faça sentido e que force o pensador a pensar, a criar conceitos. Ou seja, pensar é criar conceitos, não é re-fletir, ou re-presentar.
Os filósofos da Diferença vão contra qualquer idéia de que precisamos viver em igualdade ou em “comunidade”, pois acreditam que o que caracteriza a vida é a multiplicidade, o grande coletivo de singularidades que se descobre quando deconstruímos o senso comum. Ou seja, o principal objetivo do exercício do pensamento da Diferença é compreender os mundos possíveis e toda a multiplicidade de caminhos e construções que estão porvir a partir do eterno retorno do pensamento sem imagem.
O método de exercício do pensamento sugerido por Deleuze para se chegar ao pensamento sem imagem é buscar encontrar os elementos díspares ou contraditórios que fazem parte de um “ente” - um discurso, ser ou coisa -, ou seja, deve-se buscar encontrar aquilo de contraditório que forma a identidade de algo ou de alguém, aquilo que o faz singular. Toda singularidade é feita de elementos paradoxais, de elementos contraditórios. Ela é feita de pelo menos uma série divergente, em que o sentido transita ora de um lado, ora de outro. Assim, ao enxergarmos a diferença presente nos fenômenos da vida eliminamos qualquer forma de mediação que possa atrapalhar essa visão, como as forças poderosas de certas af ecções do desejo, como o egoísmo, o ódio, a inveja.
Por isso, podemos afirmar que a filosofia da Diferença entende que não existem princípios absolutos e objetivos, mas sim, opiniões, pontos de vistas, forças intensas ou menos intensas. Entretanto, o fato de aceitar que existem formas singulares de ser e de pensar não quer dizer aceitar tudo como válido. Justamente por compreender que o mundo é um caos-errante, desordenado, desequilibrado e nada definitivo, a filosofia da Diferença entende que todos temos uma potência de Ser que precisa estar sempre livre, sempre disponível.
Então, como essa filosofia valora essas diferentes formas do pensar? Para ela, qualquer criação, qualquer forma de pensar que tenha a intenção de controlar ou tolher a liberdade de pensamento que nos é própria, é ruim. Qualquer forma de pensar que se baseie no senso comum, no uso da linguagem como representação de mundo, no entendimento de que somos desiguais e que devemos ser iguais, é vista como ruim, é desvalorizada pelos filósofos da Diferença.
E como essa filosofia se manifesta na escrita? Os filósofos da Diferença escrevem sobre o presente, sobre os fatos externos ao pensador, e não a partir de sua interioridade. Para tanto, utilizam principalmente o Aforismo. Aforismo é o uso de sentenças breves, o uso de máximas. O aforismo possui intensidade porque resume em poucas palavras aquilo de contraditório que nos é próprio, com humor e ironia. Além disso, a escrita filosófica da Diferença utiliza-se da poesia. Dessa forma, os filósofos da Diferença escrevem textos difíceis, poéticos, polifônicos.
O cruzamento da literatura com a filosofia é marcante nos escritos dos filósofos da Diferença. Muito mais do que entender a filosofia e a arte como duas áreas do saber, eles compreendem que elas se entrecruzam e se completam. Para eles, há filosofia na literatura porque a literatura é a clinica de um povo, ela é a nossa saúde.
Por isso, muito mais do que respeito às diferenças, o pensamento da Diferença acredita que somos fruto de uma criação do sentido, de uma busca pela significação e, por isso, vivemos em constante transformação. Além disso, ao compreender o papel fundamental dos signos e da linguagem, o pensamento da Diferença busca desconstruir o senso comum, descobrir seus paradoxos e contradições para, a partir deles, chegar ao pensamento sem imagem. É só aí, então, que podemos ser capazes de criar algo novo, singular, feito de humor e de poesia, num eterno retorno do Diferente.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mangás

Dividem-se de acordo com a faixa etária e o sexo do leitor: shôgakkô mangá (infantil), shôjo mangá (juvenil feminino), shônen mangá (juvenil masculino), josei mangá (adulto feminino) e seinen mangá (adulto masculino).
O shôjo mangá foi objeto de estudos de mestrado de Sheila Kiemi Oi: o mangá lê-se “da capa do livro com a brochura à sua direita – o que corresponde à contracapa ocidental-, sendo a leitura das páginas feita da direita para a esquerda”. Ela ressalta o universo onírico e fantasioso das ilustrações. “As histórias encantam, questionam e subvertem os padrões que são impostos cultural e socialmente às meninas japosesas”( in Jornal da Unesp, junho 2010).
A se conferir: “Santuário do anjo” de Kaori Yuki e “Nana” de Ai Yazawa.


Botticelli– Itália, sé. XV / Kaori Yuki – Japão, séc. XX

terça-feira, 14 de dezembro de 2010


Conferir
A Rede Social”, em cartaz nos cinemas desde o dia 3 de dezembro, retrata o atual presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, como um jovem de poucos amigos e que trai colegas em sua jornada para transformar seu site na maior rede social do mundo, hoje com mais de 500 milhões de usuários. O filme estreou nos Estados Unidos no mês de outubro e foi o mais visto durante o seu primeiro fim de semana. A obra recebeu recentemente os prêmios de melhor filme, melhor diretor, melhor ator e melhor roteiro adaptado da Associação Nacional de Críticos de Cinema dos Estados Unidos. “A Rede Social” é baseado no livro “The accidental billionaires: the founding of Facebook, a tale of sex, money, genius and betrayal”, do escritor Ben Mezrich.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010


"(...) a própria prática da filosofia leva consigo o seu produto e não é possível fazer filosofia sem filosofar, nem filosofar sem fazer filosofia (...) porque a filosofia não é um sistema acabado nem o filosofar apenas a investigação dos princípios universais propostos pelos filósofos" (Gallo & Kohan, 2000).